O JA 241, sendo o último número de 2010, ano em que se comemora o primeiro centenário da República portuguesa, não quis deixar de registar este acontecimento, no âmbito das matérias que dão corpo à sua linha editorial.
Assim, juntamente com a revista, publicamos, esta separata especial, Viva a República!, na qual procuramos relembrar o impulso que o período da I República proporcionou à arquitectura, ao desenho das cidades e à reflexão crítica sobre a própria disciplina, bem como o que os arquitectos portugueses trouxeram de novo ao país, nas oportunidades criadas pelo regime que então começou.
A separata, organiza-se à volta destas três áreas (Cidade, Arquitectura e Crítica na I República), sendo que, para cada uma delas, entendemos convidar um “especialista” a escrever um artigo sobre o tema distribuído: Raquel Henriques da Silva fala--nos das infra-estruturas urbanas e dos transportes, José António Bandeirinha, do equipamento e da habitação, e Marieta Dá Mesquita, das publicações de arquitectura e construção.
Para os três autores, a mesma dificuldade: a compartimentação rigorosa entre um antes e um depois do 5 de Outubro de 1910. A nossa matéria de trabalho, a nossa reflexão, os exemplos que nos iluminam, a maturidade dos arquitectos disponíveis, mesmo os pretextos onde se ancoram as experiências, caminhando a par com a maior ou menor sensibilidade dos diversos poderes, dependendo de decisões políticas e de opções ideológicas, compreendem também um ar do tempo que por vezes antecede e anuncia as mudanças ou que, pelo contrário, prolonga, para lá do desejo do novo, o rasto reactivo do poder desapossado.
Muitas iniquidades terão permanecido; mas Outubro de 1910 confirmou para Portugal, ainda que durante um curto período (em 1928 o ambiente voltaria a fechar-se denso), as possibilidades de salubridade, alfabetização, participação cívica, liberdade de informação, mobilidade urbana e interurbana e racionalidade construtiva que anunciavam o século XX e estão na base da riqueza que ainda hoje poderemos encontrar nesse primeiro património urbano, arquitectónico e crítico de raiz republicana.